domingo, 28 de novembro de 2010

Segredo

Protege-se do sofrimento
Causado pelo esquecimento
Ou talvez pelo deslumbramento
De novamente sentir

Guarda para si o segredo
Que está em seu plano primeiro
Como a chama de um isqueiro
Que acende sem depender de si

Renasce como uma fênix
Das cinzas do coração
Outrora feito peão
Pela rainha que comanda a dor

Renasce o amor incondicional
Que alterna em ser ou não racional
Mesmo pouco convencional
Guardado, ainda assim é amor

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Reflexo

Eu vejo de longe
A imagem refletida
No espelho da sua vida
Onde minha imagem se reflete

Nidifica-se e esclarece
Nas lágrimas contidas
No pessimismo ali presente
Em ambas nossas vidas

Cópia quase exata
Beleza, porém intacta
Extravasa a alegria
E raiva quando assustada

Grita e esperneia
Mas dos problemas não se alheia
Preocupa-se e ajuda
Até quando não há cura

És espelho, espelho meu
Confia, conheço-te tanto quanto a mim
Quando seu mundo desabar
No meu poderás refugiar-se enfim

Em nós

Ecoa do vento a voz
Expulsa a solidão
Floresce a razão
Acelera o coração
Quando o eu transforma-se em nós

Ascende ao céu e voa
Da planta a raiz
Da vida a matriz
O sentimento feliz
Que de sua alma emana e ressoa

Joga-te e não olhes pra trás
Nadando no fundo
Deste planeta imundo
E cai em sono profundo
Pra conservar a beleza que em ti jaz

Reflete passado, presente e futuro
Seus olhos escuros
Que mesmo maduros
Enxergam como puros
Os dizeres que em você mora o meu tudo

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Poeira

Grãos de areia flutuam no ar
Sobem, descem e pairam
Poeira que vive a passar
Lembram o que vem de dentro

Poeira que voa, ilumina-se
Luzes que mudam de cores
Como corações mudam os amores
E machucam o peito por existir

Luzes que trazem prazeres
Tristezas e dores. Sabores.
Intenções que se mudam nas cores
Grãos de poeira e areia

Grãos que na praia se deitam
E no vento voltam à vida
Na água mudam o gosto
E na vida mudam os ventos

Mudanças que ocorrem no tempo
No hoje que acaba no amanhã
Amanhã que começa depois
Que o ontem raiou de manhã

Dias que mudam destinos
Palavras que mudam os dias
Olhares que mudam as palavras
Olhos que mudam os olhares

Sensações que movem lugares
Vontades que mandam nas vontades
O que manda em mim de verdade
É a simples palavra “você”

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Euforia

Alegria não é passageira
Por isso, és eufórico
Perdeste o sentido
Não só um; todos

O que fazes pra ocultar
E o que fazes pra esquecer
Deixam-te mais pobre –
Nem todos conseguem ver

Mas, não caias em desespero
O que ficou pra trás foi mais que mágoas
Seus olhos mostram a imperfeição com que vives,
sentes, pensas, choras
Nada disso faz de ti real
Não importa o quanto tentes esconder

Perdeste a chance de ser quem deverias ser
Agora tens apenas
Não tens nada
Tens apenas o que precisa
Para não sentir mais nada

Não enxergas que tua vida te condena?
Acorda-te, levanta-te
Torna teu ser um novo homem
Onde cada lágrima contenha toda dor outrem guardada
E cada sofrimento outrora sentido

Para quem te vê
Não é tão complicado
Mas não te entendem não é?
Precisas criar alguém para falar contigo mesmo
Sabes que o que vem te deixando cada vez mais vivo
São as palavras não ditas
De quem te deixa cada dia mais morto

Não tenhas medo
O fim não começa agora
Pelo menos não por enquanto

Invisível

Você não sente o que eu sinto agora
Minha dor não é visível para seus olhos
Lindos olhos que mostram alegria
De não precisar sofrer quanto os meus

Se sangrasse seria mais bonita
Se aparecesse seria mais real
Se existisse seria de verdade
Mas é inventada a minha dor –
Não é carnal

Se ao menos meus olhos conseguissem
Fazer dos seus menos brilhantes
E não me perder por entre o céu contido
Em cada gota cheia de vazio
Que suas lágrimas expressam

Se ao menos suas lágrimas caíssem
Se ao menos eu pudesse arrancá-las
Mas sou fraco, muito fraco
Pois não encontro nem as minhas pra chorar

Se dói tanto, por que sempre passa?
Se não é real, por que me afeta?
Sim, tudo isso é real e dói de verdade
E os horizontes apontam para o nada
Contido à frente dos seus espetáculos de cores

Se pelo menos eu pudesse
Se pelo menos a dor viesse
No momento em que eu definitivamente conseguisse
Dizer-te que em teus braços
Ela seria tão grande que iria curar-se
E não mais com dor viveria
Mas ela comigo
E eu com você

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Do que Existe

Não é pelo vento que sopra lá fora
Muito menos pela vida que não se demora
Todo esse medo é indiferente
Ou até, quem sabe, inexistente

Disfarçar o que não se sente de verdade
Não é mais que medo de admitir a saudade
De tudo que não foi visto ou presenciado
Seja na vida, na morte, ou no pecado

O que se tem de concreto e verdadeiro
Não pode ser visto por nenhum estrangeiro
Daqueles que moram distante da alma
E que não têm em sua existência a menor calma

Pois apreciar o que não existe
Confunde o sentido de sentir –
medo que vive e persiste

Não há saída quando não se admite o erro
Ou estás vivo por alguém, ou estás vivo por si mesmo