domingo, 1 de julho de 2012

Suavidade

Um vão no ar, avião a planar
Um suspiro, um retiro, poder pousar

Crença antiga, vivida, ávida
Espírito limpo, clareza mágica

Estreita passagem, imagem no céu
Estiagem, miragem, gotas de mel

Calendário marcado, datas corretas
Dia pensado, rotina discreta

Viagem da mente, outrora lembrado
Passeio contente, um feliz agrado

Partes de um todo, cores azuis
Cartas perdidas, papéis nus

Vidas corridas, entrelaçadas
O detalhe supremo, uma dor engraçada

O ontem agora, o futuro amanhã
Beleza da noite na triste manhã

Certeza incerta, a vida a passar
A morte a espreita, nunca chegará

Um vão, um suspiro, a suavidade
O ar corta um tiro de realidade

Um avião, uma nuvem, a água a correr
As pernas urgem, a morrer de viver

sábado, 30 de junho de 2012

Ator dos dias

Inimaginável ator dos dias
Passeia pela rua deserta
Desertando a tudo que se via
Imagem de loucura na certa

Gritos brandos ao vento
No céu, nuvens negras de chuva
À noite, sozinho ao relento
O ator se perde na curva

Entre o perdão e a nobre riqueza
Uma tênue linha, um retalho
Na avenida que emana tristeza
O ator se congela, sem agasalho

E sorrateira a noite se vai
Leva embora e chuva e o cansaço
A dor no peito se contrai
É doído cada fino e singelo passo

Se entregar em sua mente, jamais!
Mas um ator só interpreta o papel
E todas as facetas atrás
Se perdem num imenso e anil céu

De cortinas e glórias passadas
Num teatro de plateia muda
Ganha e perde vida o autor de pegadas
Das matas e céus, da casa e da rua

E assim se finda a história
A geografia, a ciência, o saber
Na vida de muitas memórias
Quem será esse ator, eu ou você?

Amor amar

Olha pra cá, veja o mar
Sinal de amor, farol do amar
Olha aqui, veja em mim
Sinal de amor, você assim

Paz no pensar, pureza do ser
Saber dos dias, querer e poder
Uma paixão, uma luz mágica
A força do não, beleza trágica

É belo, é perfeito
É maior que tudo
O que tu tens feito
Transforma o meu mundo

A rima mais bela
O sabor do luar
A vida completa
Meu amor, meu amar

(Cajuína) !

Estrago.
Parafraseando:
A que será que se destina?
Pensando bem, Caetano, quem sabe?
Existirmos é só um capricho?
Quem sabe um delírio?
Ah, vai saber!

Melhor que saber é imaginar!
Viva o poeta da imaginação!
Viva a viola da irreal canção!
Viva a vida, sem morte, sem razão!
Uma viva mais viva, que se viva mais que por viver!
Que se viva toda a vida!
Que enfim eu viva por você!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Segunda Gripe

Meu corpo quente, fervendo de dor
Um silêncio, um vazio, uma única cor
O destino irreal inexistente
Um sofrimento latente, presente

Que há no fundo do mar
Senão água, peixes e mar?
Que há em cima no ar
Senão águias, nuvens e ar?

A cor é o preto, lancinante, escuro
Que vejo de olhos fechados
No meu peito, fraco e duro

O som é um grito, gélido, calado
Se não tenho o que quero:
Você aqui, do meu lado

terça-feira, 5 de junho de 2012

Casa de campo

Faltando uma tábua
A madeira velha e desgastada
É meu abrigo verdadeiro

A dor de uma mágoa
Dor tão fina e desvairada
Meu sentido primeiro

Se esvai como a água
Do lago, sentida e manchada
Meu pensar derradeiro

No campo deságua
Febril, minha atordoada
Mente descansa por inteiro

domingo, 3 de junho de 2012

Relógio de Bolso

Estranho o tempo
Desajeitado nas engrenagens enferrujadas do relógio
Onde os ponteiros giram no anti-horário
E talvez no contrário esteja o que penso
Da poeira acumulada no vidro do carro
Sem uso, sem couro, sem tesouro guardado

Fotografias manchadas pelo mesmo tempo que levou embora
De todos os bons, a juventude
Ah! Quem me dera
Quem nos dera que os ventos soprassem de volta
Nos dera também ver o poente na porta

Porta de madeira, porta de casa
Que o desgaste não corroa, que a ferrugem não saia
Do meu querido relógio
Não! Que o tempo não volte
Pois não há glória vivida que valha
A mais bela joia, a mais fina malha
O que se foi, que se deixe por vir

Não é belo esse barulho antigo?!
Um cheiro gostoso, a chuva castigando o vidro
A janela, todas as partes
Se a Terra girar ao contrário
Que se veja o tão iluminado no espelho
E se faça direito um sublime desejo:
Que o tempo permita que a mente encontre
Na alma a resposta do que tanto almejo

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Maré Cadente

Sem pensar
Atirei-me enfim num castigo de paz
Onde o corpo transcende o limite do mar
O que não há mais está gravado no subconsciente
Indiferente da razão
A falta não se materializa em minha mão
Apenas arde o que não se toca
Minha boca se choca contra uma onda de sal e luz
Irradiando calor de uma inexistência díspar
A que o pensar induz (?)

 
Numa quase morte em plena saúde
Que não se machuque meu orgulho de existir
E mais uma tarde se passe a ouvir
O quebrar da maré nas estrelas que caem

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Um Simples Lago

A grama cresce alta perto do lago
A água descansa tranquila
A brisa se infiltra na terra
E a paisagem delira de tão bonita

As flores exaltam a pureza
Os pássaros voam em liberdade
Dois corações apaixonados
Encontram-se no rumo da saudade

As árvores margeiam ao longe
A colina onde o sol se põe
A lua refletida no lago
Ilumina a tristeza que se dispõe

A penetrar nos pontos mais fracos
Relaxar a essência causando dor
Fortes no fim serão aqueles
Que nas águas do lago virem o amor