sábado, 25 de maio de 2013

Passagens Secretas

Dobras e mais dobras e apertos
Dedos entrelaçados como um erro
Cidades em meio às trevas da aurora
O amanhã se realiza no agora

Estalos, baques, solavancos e tremores
Riachos morrendo, despetalando-se as flores
Água poluída, manchada, irreconhecível
Os pesos na varanda estão em outro nível

O que será que há muito não desperta
em um mundo perfeito, mágico, de sonhos
onde jamais se precisa estar alerta?

Seja, pois, a vida em pesadelos medonhos
Mistificada e livre, de porta aberta
Por onde transitam anjos e demônios 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Novos abrigos

E quando começo a me distanciar
Entro num transe dentro de mim mesmo
Para logo após acordar no mundo real
E ver que a felicidade ainda existe

Sem nem perceber passo a encontrar
Aonde pra mim já estava à esmo
Um novo lugar, um ponto inicial
Em outras pessoas minha alma persiste

em encontrar abrigo, varrer o quintal,
catar as folhas, regar as plantas,
cuidar enfim de todas as casas

Não sei se é um pensamento banal
Não sei se isso ainda adianta
Mas pra sonhar e viver, ainda tenho asas 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Selva de Sabores

Maré efêmera de cores
Um anagrama na areia
No chão pedaços de flores
No ar lágrimas de sereia

O horizonte se expande
O coração se comprime
Olhos à venda num estande
de feira livre, que belo crime!

Seja feita a pintura
Alto relevo, uma gravura
de sentidos superiores

Os lábios pintam a doçura
Ora clara, ora escura
Perdida na selva de sabores

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Realidade quebrada

Será que morri?
A realidade está alterada, dobrada
Arrancada do meu peito ela foi

Por que estou aqui?
Minhas certezas quebraram, estalaram
Destruíram as dúvidas em mim

O que será que aconteceu?
Minha mente muda, transforma, inunda
Tudo ao redor do meu ser, tudo ao meu ver

Foi reconstruído, artificialmente
Será que isso tudo é só um sonho?
Talvez, felizmente, seja só um pesadelo real...        

terça-feira, 7 de maio de 2013

Antagonismos e transparências

Fácil. Às vezes fácil até demais
Escalar diversas paredes sem cair
Difícil é enxergar o que há por trás
De tantas portas sem as abrir

Simples. Às vezes simples ao extremo
Quebrar os vidros da janela
Pena que com as cortinas somente o vento
Pode revelar os mistérios escondidos por ela

Trivial. Morar numa casa transparente
Sem barreiras, sem espelhos, sem sujeira
Complicado é descobrir quem mente
Quando o pensamento enche os olhos de cegueira

Banal. Tudo se altera depois da metade
E não há nada errado em ter segredos
Porém, é quase impossível saber de verdade
Se vale a pena chorar pelo que escorre entre os dedos

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Complexo de pensamento

E perguntam "por que chorar?"
Quando a resposta é por sonhar
demais. E ser fraco
Fraco a ponto de segurar a fraqueza

É como estar à deriva num barco
Num oceano de tristeza

Mas que mal tem nisso?
É como um sentir mestiço
Que cobre toda a ilusão
de fantasiar com o pior

Pecar na imaginação
é tão pecado quanto estar só

Amargo se torna o gosto
de tudo que se tem posto
em frente ao desejo
Indiferença não mais agrada

Melhor mesmo é crer no que vejo
Pensar no infinito, alma anestesiada

Urgência

Rema, cavalga e campeia
Uma simples vida leva
Cheirando as flores que rega
Na natureza que o rodeia

Foge de qualquer realeza
Se cruzam cortantes estradas
O que há poço é escada
O que há força é fraqueza

É tormento o entardecer
Ventos frios da aurora
Mergulham e trazem para fora
Alegria entrelaçada ao sofrer

Desperta, sonha e ignora
Todo o passado tranca
Com o futuro que em mente descansa
Vive o aqui e o agora

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Renascer

Cegaram os olhos da alma
Roubaram-lhe a paz e a calma
Distante de toda certeza
A escuridão é clareza 
em qualquer ambiente que valha

Usar o olhar da razão
Distrair-se de todo perdão
Que de fato carrega culpa
Imersa em via de mão-dupla
Feita de erros e negação

Calaram a voz da emoção
Cortaram-lhe o coração
Apertado, bate bem manso
Cansado, pede descanso
Para fugir da percepção

De acordar sem nada em volta
Desespera-se, corre e se solta
Em meio ao delírio de estrelas
Desperto enfim pode tê-las
Renascendo sem nenhuma revolta