sábado, 30 de junho de 2012

Ator dos dias

Inimaginável ator dos dias
Passeia pela rua deserta
Desertando a tudo que se via
Imagem de loucura na certa

Gritos brandos ao vento
No céu, nuvens negras de chuva
À noite, sozinho ao relento
O ator se perde na curva

Entre o perdão e a nobre riqueza
Uma tênue linha, um retalho
Na avenida que emana tristeza
O ator se congela, sem agasalho

E sorrateira a noite se vai
Leva embora e chuva e o cansaço
A dor no peito se contrai
É doído cada fino e singelo passo

Se entregar em sua mente, jamais!
Mas um ator só interpreta o papel
E todas as facetas atrás
Se perdem num imenso e anil céu

De cortinas e glórias passadas
Num teatro de plateia muda
Ganha e perde vida o autor de pegadas
Das matas e céus, da casa e da rua

E assim se finda a história
A geografia, a ciência, o saber
Na vida de muitas memórias
Quem será esse ator, eu ou você?

Amor amar

Olha pra cá, veja o mar
Sinal de amor, farol do amar
Olha aqui, veja em mim
Sinal de amor, você assim

Paz no pensar, pureza do ser
Saber dos dias, querer e poder
Uma paixão, uma luz mágica
A força do não, beleza trágica

É belo, é perfeito
É maior que tudo
O que tu tens feito
Transforma o meu mundo

A rima mais bela
O sabor do luar
A vida completa
Meu amor, meu amar

(Cajuína) !

Estrago.
Parafraseando:
A que será que se destina?
Pensando bem, Caetano, quem sabe?
Existirmos é só um capricho?
Quem sabe um delírio?
Ah, vai saber!

Melhor que saber é imaginar!
Viva o poeta da imaginação!
Viva a viola da irreal canção!
Viva a vida, sem morte, sem razão!
Uma viva mais viva, que se viva mais que por viver!
Que se viva toda a vida!
Que enfim eu viva por você!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Segunda Gripe

Meu corpo quente, fervendo de dor
Um silêncio, um vazio, uma única cor
O destino irreal inexistente
Um sofrimento latente, presente

Que há no fundo do mar
Senão água, peixes e mar?
Que há em cima no ar
Senão águias, nuvens e ar?

A cor é o preto, lancinante, escuro
Que vejo de olhos fechados
No meu peito, fraco e duro

O som é um grito, gélido, calado
Se não tenho o que quero:
Você aqui, do meu lado

terça-feira, 5 de junho de 2012

Casa de campo

Faltando uma tábua
A madeira velha e desgastada
É meu abrigo verdadeiro

A dor de uma mágoa
Dor tão fina e desvairada
Meu sentido primeiro

Se esvai como a água
Do lago, sentida e manchada
Meu pensar derradeiro

No campo deságua
Febril, minha atordoada
Mente descansa por inteiro

domingo, 3 de junho de 2012

Relógio de Bolso

Estranho o tempo
Desajeitado nas engrenagens enferrujadas do relógio
Onde os ponteiros giram no anti-horário
E talvez no contrário esteja o que penso
Da poeira acumulada no vidro do carro
Sem uso, sem couro, sem tesouro guardado

Fotografias manchadas pelo mesmo tempo que levou embora
De todos os bons, a juventude
Ah! Quem me dera
Quem nos dera que os ventos soprassem de volta
Nos dera também ver o poente na porta

Porta de madeira, porta de casa
Que o desgaste não corroa, que a ferrugem não saia
Do meu querido relógio
Não! Que o tempo não volte
Pois não há glória vivida que valha
A mais bela joia, a mais fina malha
O que se foi, que se deixe por vir

Não é belo esse barulho antigo?!
Um cheiro gostoso, a chuva castigando o vidro
A janela, todas as partes
Se a Terra girar ao contrário
Que se veja o tão iluminado no espelho
E se faça direito um sublime desejo:
Que o tempo permita que a mente encontre
Na alma a resposta do que tanto almejo